2021-10-05 17:12:31.0
Pandemia inspira novas aplicações de materiais antimicrobianos
CDMF, sediado na UFSCar, aprimora partículas e testa compósitos com diferentes polímeros
Desde os primeiros meses da pandemia de Covid-19, o Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF), sediado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), direcionou seus esforços à aplicação de tecnologias e do conhecimento acumulado nas últimas décadas ao enfrentamento do vírus Sars-CoV-2. Já em abril de 2020, parceria com a Nanox, empresa spin-off do Centro, partículas a base de sílica e prata foram aplicadas ao polímero etil vinil acetato (que conhecemos como EVA) para a produção das máscaras reutilizáveis Oto, cujo material soma à filtragem do ar a ação virucida, bactericida e fungicida. Desde então, foi imensa a variedade de outras aplicações e, também, foi grande o avanço no conhecimento e no desenvolvimento tecnológico rumo a soluções cada vez mais eficientes e, também, versáteis e baratas.
Um conjunto de artigos publicados recentemente ilustra essa trajetória, além de evidenciar a posição de destaque ocupada pelo Centro nacional e internacionalmente.
O primeiro deles, intitulado "SiO2-Ag composite as a highly virucidal material: a roadmap that rapidly eliminates Sars-CoV-2" (disponível em https://www.mdpi.com/2079-4991/11/3/638), foi publicado em março deste ano, no periódico Nanomaterials, e designado pela editora "Hot Paper" pelo alto número de visualizações. Nele, os autores apresentam justamente o material empregado na máscara Oto; reportam os resultados obtidos nos testes de atividade bactericida e, também, de eliminação do coronavírus; e compartilham análises sobre os mecanismos envolvidos na ação biocida, visando inclusive apoiar o desenvolvimento futuro de outros materiais de mesma natureza.
Em agosto, foi publicado no Journal of Polymer Research o artigo "PVC-SiO2-Ag composite as a powerful biocide and anti-Sars-CoV-2 material" (disponível em https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10965-021-02729-1), com foco em outra aplicação das mesmas partículas, em filmes plásticos flexíveis, de PVC, utilizados, por exemplo, como embalagem de alimentos. Neste caso, além da ação bactericida, virucida e fungicida, também foi comprovada a segurança no uso em contato direto com alimentos, bem como verificou-se um ganho adicional: o aumento no tempo de prateleira de produtos perecíveis, ou seja, maior intervalo até o alimento - no caso testado, frutas - estragar.
O terceiro artigo, recém-publicado (em 21 de setembro), tem o diferencial de trabalhar apenas com material semicondutor - fosfato de prata (Ag2PO4) - para a ação biocida, sem a prata na forma metálica. O trabalho, intitulado "Bioactive Ag3PO4/Polypropylene composites for inactivation of Sars-CoV-2 and Other important public health pathogens", foi publicado no periódico Journal of Physical Chemistry B (disponível em https://pubs.acs.org/doi/10.1021/acs.jpcb.1c05225).
"O fosfato de prata é um semicondutor já bastante estudado no CDMF, e vimos comprovando que esses materiais, sozinhos, são muitas vezes mais eficientes que as partículas metálicas. Temos, portanto, buscado tanto partículas mais eficientes e com menor custo de produção, quanto seu uso em diferentes aplicações", conta Marcelo Assis, pesquisador de pós-doutorado no CDMF que está entre os autores nos três artigos. Neste último, com o fosfato de prata, o compósito desenvolvido envolve o polímero polipropileno, muito utilizado no cotidiano em sacolas plásticas, cadeiras e embalagens rígidas reutilizáveis com tampa, dentre vários outros utensílios. Além de novas partículas e aplicações, os estudos buscam materiais com impacto cada vez menor no ambiente e no corpo humano.
Os resultados obtidos pelo CDMF no contexto da pandemia foram destacados também pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a quem o CDMF está vinculado, como um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela Fundação. Em seu último relatório anual, relativo a 2020, a Fapesp destacou as aplicações desenvolvidas em parceria entre o CDMF e a Nanox - como tecidos e filmes plásticos com as partículas que eliminam o Sars-CoV-2 por contato - e, também, as atividades de difusão realizadas em parceria com o Laboratório Aberto de Interatividade para a Disseminação do Conhecimento Científico e Tecnológico (LAbI) (www.labi.ufscar.br), especialmente o podcast Quarentena, no ar ininterruptamente por 280 dias em 2020 e que, neste ano, segue sendo veiculado em edições semanais.
"Como não me canso de repetir, dada a importância desta mensagem, nada disso teria sido possível sem o investimento contínuo em Ciência básica e aplicada ao longo das últimas décadas. É este conhecimento acumulado e, muito especialmente, as pessoas formadas nesse processo, que permitiram a mobilização e rápida resposta no momento da emergência global", registra Elson Longo, Diretor do CDMF. "Outro aspecto fundamental é que a Ciência é um trabalho em equipe, e aproveito a oportunidade para parabenizar e agradecer todas as pessoas envolvidas, do CDMF e de tantos parceiros", complementa.
Além do CDMF e da Nanox, figuram como instituições de vínculo do conjunto de autores envolvidos nas três publicações outras unidades na própria UFSCar (Departamento de Química e Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia), além da Universitat Jaume I, na Espanha; da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Botucatu; e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Contato para esta matéria:
Mariana Pezzo Telefone: (16) 33066563
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