2025-06-23 19:34:29.0
UFSCar lidera maior levantamento sobre colisões de aves em vidraças na região Neotropical
Estudo aponta padrões preocupantes de mortalidade em edificações com vidros refletivos, do México até a Patagônia argentina
Um estudo internacional recém-publicado na revista "Ecology" resultou no mais abrangente banco de dados sobre colisões de aves com superfícies envidraçadas na região Neotropical. Entre os coordenadores do trabalho está o professor Augusto João Piratelli, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA-So), do Campus Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
O projeto intitulado "Bird-window collisions: A comprehensive dataset for the Neotropical region" (Colisões de aves com vidraças: Um conjunto de dados abrangente para a região Neotropical) buscou mapear a frequência de colisões de aves em vidraças na região Neotropical, do México até a Patagônia argentina. "Esse assunto ainda é pouco conhecido fora do Hemisfério Norte e muitas das ações mitigadoras frequentemente implementadas são baseadas em estudos realizados na Europa e América do Norte. Com essa compilação de dados nós pretendemos preencher essa lacuna de informações, mostrando quão abrangentes são esses acidentes em toda a América Latina, seus padrões e como evitá-los de forma mais assertiva considerando a realidade da região", destaca Piratelli.
O estudo compilou 4.103 registros de colisões de aves ocorridas entre 1946 e 2020 em 11 países da América Latina, com a participação de 90 instituições e mais de 100 pesquisadores e colaboradores. O Campus Sorocaba da UFSCar figura como uma das principais instituições responsáveis pela coleta sistemática de dados no Brasil, com destaque para as ações realizadas no Campus desde 2014.
"No Campus Sorocaba da UFSCar nós fizemos vários estudos envolvendo alunos de graduação e há uma década monitoramos as colisões regularmente, bem como testamos a eficiência de medidas preventivas, por exemplo, a utilização de silhuetas de aves de rapina, que nós concluímos não serem tão eficientes, mas também adesivos circulares, que definitivamente são potentes restritores de colisões. Também avaliamos os efeitos dos acidentes no corpo das aves e testamos métodos de coleta de dados", relata o professor.
O levantamento aponta padrões preocupantes de mortalidade em edificações com vidros refletivos. "Basicamente nós desmistificamos a ideia de que as colisões na região ocorrem principalmente em prédios altos e edifícios, como acontece nos EUA. Ao contrário, constatamos que a maior parte das colisões foi detectada em edificações relativamente baixas (até três andares) caso de muitas habitações urbanas, rurais e campi universitários. Também verificamos tendência temporal de dois picos de colisões, um em abril e outro em outubro, coincidindo com os períodos de migração e reprodução das aves, respectivamente", descreve o pesquisador da UFSCar.
As rolinhas roxas e diversas espécies de sabiás aparecem consistentemente entre as espécies com maior número de colisões. "Vale a pena destacar que a maioria das aves já são encontradas mortas e, embora algumas delas sejam encontradas vivas e entregues a instituições adequadas, a literatura científica nos mostra que a maioria (cerca de 60%) não consegue se recuperar", completa ele.
Além disso, o estudo reforça a necessidade de políticas públicas para tornar as cidades mais seguras para a biodiversidade. De acordo com Piratelli, "as políticas públicas devem buscar medidas preventivas tanto para fabricação de vidros quanto na requalificação de habitações já existentes. Também consideramos fundamental gerar dados científicos aqui no nosso país e não somente importar conhecimento do que se faz no Hemisfério Norte, ou reproduzir ideias divulgadas em redes sociais que não necessariamente tem fundamentação científica. Já há algumas iniciativas e projetos de lei buscando a mitigação desse grave problema e esperamos que o nosso banco de dados sirva para incentivar e fundamentar decisões", defende o professor.
O artigo e os dados estão disponíveis em acesso aberto na plataforma Zenodo (https://bit.ly/estudo_colisoes) e podem ser utilizados por pesquisadores, gestores públicos, arquitetos e urbanistas.
Contato para esta matéria:
João Eduardo Justi Telefone: (16) 981587168
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